— Cheiras a pó talco!
E esta tua tão simples constatação teve a forma de máquina de teletransporte, numa fracção de segundo vi-me há quase 30 anos atrás. Ou melhor, senti-me lá: senti o cheiro dela quando se vinha deitar a meu lado com as suas longas camisas de noite de flanela, com flores desenhadas (?) – dos desenhos não me lembro bem, provavelmente porque já estava escuro nesse momento em que já só a sentia tão perto a ponto de apenas reter aquele cheiro morno, puro, macio, inocente, acolhedor, confortável. Era o cheiro que ela tinha sempre quando ia dormir. Definitivamente é uma memória repartida pelas caixinhas do olfacto e do tacto.
E hoje deitei-me a teu lado e és tu a verbalizar o que pensei tantas vezes no passado!
— É do creme das mãos — respondi a sorrir no instante imediato, sem que te tivesses apercebido da minha longa e distante ausência.
segunda-feira, 6 de outubro de 2008
sexta-feira, 3 de outubro de 2008
quinta-feira, 2 de outubro de 2008
A desmistificação do mito
Foto de Miguel Moura.
Tudo em mim sempre evoluiu de forma muito rápida: as relações amorosas que deslizavam qual ski da clareza da neve para o obscuro da floresta; as gripes galopantes que no entanto se curavam a trote; a facilidade em conhecer pessoas e fazer de alguns novos amigos; o entendimento da dor dos que me foram queridos, mais do que gostaria – refiro--me ao entendimento, à compreensão da dor de cada um, de tal forma que muitas vezes a senti; o raciocínio que sempre me impediu de escrever por ser rápido de mais para que a mão o acompanhasse – nada de extraordinário...
E agora isto, surgido há coisa de um ano ou dois. Não percebi o que era das primeiras vezes, só mais tarde me apercebi da sua periodicidade e coincidência com determinada fase da minha vida. Até aqui tudo bem, chateava-me um pouco mas até achei piada por afinal existir efectivamente e não ser um mito urbano!
O problema é que num tão curto espaço temporal o vejo agravar-se, mesmo agigantar-se de forma assustadora. Dá-
-me cabo da cabeça, dá-me cabo dos dias, dá-me cabo da vida que tenho, não só daquela que só a mim pertence mas também da que partilho com os outros.
Se, de cada vez que isto me assombra, continua a intensificar-se a esta velocidade, temo brevemente não responder por mim!
Simpatia (síndrome)
Pela (pré-)
Mortificação (-menstrual)
Tudo em mim sempre evoluiu de forma muito rápida: as relações amorosas que deslizavam qual ski da clareza da neve para o obscuro da floresta; as gripes galopantes que no entanto se curavam a trote; a facilidade em conhecer pessoas e fazer de alguns novos amigos; o entendimento da dor dos que me foram queridos, mais do que gostaria – refiro--me ao entendimento, à compreensão da dor de cada um, de tal forma que muitas vezes a senti; o raciocínio que sempre me impediu de escrever por ser rápido de mais para que a mão o acompanhasse – nada de extraordinário...
E agora isto, surgido há coisa de um ano ou dois. Não percebi o que era das primeiras vezes, só mais tarde me apercebi da sua periodicidade e coincidência com determinada fase da minha vida. Até aqui tudo bem, chateava-me um pouco mas até achei piada por afinal existir efectivamente e não ser um mito urbano!
O problema é que num tão curto espaço temporal o vejo agravar-se, mesmo agigantar-se de forma assustadora. Dá-
-me cabo da cabeça, dá-me cabo dos dias, dá-me cabo da vida que tenho, não só daquela que só a mim pertence mas também da que partilho com os outros.
Se, de cada vez que isto me assombra, continua a intensificar-se a esta velocidade, temo brevemente não responder por mim!
Simpatia (síndrome)
Pela (pré-)
Mortificação (-menstrual)
segunda-feira, 22 de setembro de 2008
Sonho azul
Um destes dias acordei e, já na rua, percebi que estava a ver tudo azul à minha volta num curtíssimo momento espacial... Por acaso tinha a máquina fotográfica comigo e fui recolhendo muitas das provas de que não estava a alucinar.
Muito do que foi fotografado é algo por que passo diariamente, outras coisas nem por isso. Só sei que tudo que era azul me estava a entrar pelos olhos dentro quase violentamente. Alterei todas as fotografias, algumas para que certas coisas não pudessem ser identificadas.
Veio-me logo à memória a música Sonho Azul da Né Ladeiras que deixo aqui para relembrar, e que dedico ao meu sonho azul...
sexta-feira, 19 de setembro de 2008
quinta-feira, 18 de setembro de 2008
Ao acordar
terça-feira, 16 de setembro de 2008
Aderi à pornografia...
... e ao exibicionismo.Foto de Paulo Almeida (excerto).
Estou prestes a despir-me aqui, publicamente, para quem quiser ver.
sexta-feira, 12 de setembro de 2008
Cântico Negro
Foto de Nuno Sacramento.
«Vem por aqui» - dizem-me alguns com olhos doces,
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: «vem por aqui»!
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos meus olhos, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre a minha Mãe.
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam os meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde,
Por que me repetis: «vem por aqui»?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar maus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas, e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes e os desertos...
Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátrias, tendes tectos,
E tendes regras e tratados, e filósofos, e sábios.
Eu tenho a minha Loucura!
Levanto-a como um facho a arderna noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que me guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: «vem por aqui»!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onde que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí.
José Régio
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: «vem por aqui»!
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos meus olhos, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre a minha Mãe.
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam os meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde,
Por que me repetis: «vem por aqui»?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar maus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas, e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes e os desertos...
Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátrias, tendes tectos,
E tendes regras e tratados, e filósofos, e sábios.
Eu tenho a minha Loucura!
Levanto-a como um facho a arderna noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que me guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: «vem por aqui»!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onde que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí.
José Régio
terça-feira, 9 de setembro de 2008
sexta-feira, 5 de setembro de 2008
Para a Sandra
Foto de Luís Augusto Jungmann
vai ser um belo dia
meu amor vais ver
vai ser tão calmo
vai ser lindo de morrer
e à minha volta tudo vai ter luz
essa luz que é meu desejo ter
e como um truque de uma insólita magia
trazendo o nosso amor de volta à luz do dia
quando eu morrer
meu amor eu fico vivo nos teus gestos e em teu sorriso
por isso nunca deixes de sorrir
pois para o nosso amor viver é só o que é preciso
meu amor vais ver
vai ser tão calmo
vai ser lindo de morrer
e à minha volta tudo vai ter luz
essa luz que é meu desejo ter
e como um truque de uma insólita magia
trazendo o nosso amor de volta à luz do dia
quando eu morrer
meu amor eu fico vivo nos teus gestos e em teu sorriso
por isso nunca deixes de sorrir
pois para o nosso amor viver é só o que é preciso
Manel Cruz, Foge Foge Bandido
quarta-feira, 3 de setembro de 2008
Ausência eterna
Homenagem ao Rodrigo
Desenho de da Vinci
Que vontade é essa de voar Que risco é esse de competir
Que nos leva até ao chão Sem sequer pôr a hipótese
Devagar? De não vir?
Que nos leva até ao chão Sem sequer pôr a hipótese
Devagar? De não vir?
sexta-feira, 29 de agosto de 2008
As Horas
São 5h30!
Se fosse um dia normal, seriam horas de estar a trabalhar.
Se fosse inverno, seria de noite.
Se fosse de noite, seria de madrugada?
Se fosse de madrugada, faltaria pouco tempo para acordar.
Se faltasse pouco tempo para acordar, sonharia já pouco...
Não gosto das 5h30!
São 8h45!
Se fosse um dia normal, estaria a jantar!
Se estivesse a jantar, seria em boa companhia!
Se fosse inverno, seria de noite, mas não o suficiente para dormir.
E se fosse de manhã? Estaria a dormir?
Se fosse de manhã, estaria já a trabalhar, ao invés de dormir e de sonhar...
Não gosto das 8h45!
São 2h15!
Se fosse uma noite normal, estaria a dormir!
Se fosse uma noite normal, estaria a sonhar!!
Se fosse um dia normal, estaria a trabalhar.
Se estivesse a trabalhar, fá-lo-ia com vontade de dormir a sesta.
Não gosto das 2h15!
São 11h!
Se fosse uma noite normal, estaria quase a mergulhar no meu mundo onírico, mas ainda não!...
Se fosse uma noite normal, estaria quase a sonhar!
Se fosse uma noite normal, estaria a amar!
Se fosse um dia normal, estaria a trabalhar...
Não gosto das 11h!
São...!
Mandei o tempo para o tecto.
Assim não saberei que horas são, nem quando nem o que será um dia normal.
Posso sonhar, amar, estar e ser quando e sempre que me apetecer.
Se fosse um dia normal, seriam horas de estar a trabalhar.
Se fosse inverno, seria de noite.
Se fosse de noite, seria de madrugada?
Se fosse de madrugada, faltaria pouco tempo para acordar.
Se faltasse pouco tempo para acordar, sonharia já pouco...
Não gosto das 5h30!
São 8h45!
Se fosse um dia normal, estaria a jantar!
Se estivesse a jantar, seria em boa companhia!
Se fosse inverno, seria de noite, mas não o suficiente para dormir.
E se fosse de manhã? Estaria a dormir?
Se fosse de manhã, estaria já a trabalhar, ao invés de dormir e de sonhar...
Não gosto das 8h45!
São 2h15!
Se fosse uma noite normal, estaria a dormir!
Se fosse uma noite normal, estaria a sonhar!!
Se fosse um dia normal, estaria a trabalhar.
Se estivesse a trabalhar, fá-lo-ia com vontade de dormir a sesta.
Não gosto das 2h15!
São 11h!
Se fosse uma noite normal, estaria quase a mergulhar no meu mundo onírico, mas ainda não!...
Se fosse uma noite normal, estaria quase a sonhar!
Se fosse uma noite normal, estaria a amar!
Se fosse um dia normal, estaria a trabalhar...
Não gosto das 11h!
São...!
Mandei o tempo para o tecto.
Assim não saberei que horas são, nem quando nem o que será um dia normal.
Posso sonhar, amar, estar e ser quando e sempre que me apetecer.
terça-feira, 26 de agosto de 2008
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